29.12.12

The Secret of Kitsune - Capítulo 1


A única coisa que eu via…Era o fogo.

 Meus olhos varriam onde uma vez já foi minha pequena aldeia de demônios-raposa. Meus olhos ardiam por causa da fumaça, e o cheiro de sangue, madeira, carne e mato queimados tornava o cheiro dali insuportável, juntamente com o calor das chamas que varriam o local. Mas eu não conseguia sair dali. Estava petrificada naquele lugar, olhando aquilo, sem saber o que pensar.

 Tudo havia sido destruído. Todos estavam mortos. Meus pais, meus irmãos, meus primos, meus amigos...Todos consumidos pelo fogo, na armadilha que os humanos os botaram.

 Sinto as lágrimas escorrerem pelo meu rosto, enquanto meu joelhos fraquejam e eu caio no chão, ainda olhando aquilo.

 ‘’Porque?’’

 Porque os humanos fizeram isso?

 É tudo culpa minha. É tudo culpa dele. Eu confiei nele e ele me traiu.

‘’Eu sou uma idiota’’

Eu fitava a ex-aldeia em prantos, com o coração doído. Eu havia sido enganada por quem eu mais amava, e em troca disso toda a minha família foi dizimada. Eu devia tê-los escutado, humanos são todos iguais. Não devia tê-los feito confiar neles.

E eu deveria ter morrido junto com eles
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(SeeU)

Me espreguiço lentamente enquanto bocejo, levantando do monte de feno fofo que eu dormia. Tiro um pouco de feno que havia ficado preso em meu cabelo loiro comprido e nas minhas orelhas de raposa cor de fogo. Olho para minhas mãos brancas com dedos finos e unhas compridas pontudas, enquanto pensava no que iria comer hoje, já que meu estômago já havia começado o dia reclamando. Mas apesar da fome, eu estava com preguiça de sair da caverna escura em que sempre durmo. Aqui está tão fresco e lá fora deve estar tão quente...

Em pensar que já haviam se passado cem anos desde aquele dia.

Olho meu reflexo em uma poça de água no chão da caverna úmida. Eu continuava a mesma de anos atrás, mas meus olhos haviam mudado bastante. Continuavam azuis como sempre, mas pareciam mais sérios. Mas eu odiava envelhecer tão devagar. Eu odiava o fato de ser a última da minha espécie.

Balanço a cabeça, tentando afastar os pensamentos e lembranças indesejadas, e saio da caverna escura, fazendo meus olhos doerem com a luz repentina. Sinto a grama meio úmida por causa do orvalho da manhã sob meus pés descalços, enquanto aperto os olhos que ainda não se habituaram a claridade da manhã, e logo que consigo enxergar melhor, vejo a pequenina cidade rural ao longe.

Suspiro. Os humanos também tem avançado bastante, nos últimos anos principalmente. Mas graças a suas geringonças barulhentas, fui obrigada diversas vezes a me mudar para outro local, optando por sempre ficar perto de áreas afastadas destas, perto de lugares em que ainda haviam fazendas e plantações. De todos os modos, ficar perto deles sem eles saberem de mim também tem vantagens, como poder arrumar comida fácil. Não, eu não como eles, nunca comi humanos e nem pretendo. Mas geralmente ataco o gado deles. É o mínimo que eles precisam pagar por tudo que já fizeram a mim e aos outros.

Sim, eles acabaram com todas as outras espécies de demônios depois da minha. Talvez usando o mesmo truque sujo de antes, porque funcionou comigo. Mas não gosto de pensar sobre o assunto, não gosto de pensar que todos foram exterminados por um erro meu.

Fecho os olhos enquanto deixo uma brisa fresca levar os meus pensamentos. Eu não preciso ficar com isso na cabeça agora. Eu só preciso...

Meu estômago reclama.

...É, no momento eu só preciso comer.


(Ryo)

Eu estava sentado na sombra de uma árvore, perto do gado que meu avô mandara vigiar. Eu não ligava de ajudá-lo, mas preferia mil vezes estar na cidade mexendo em meu computador do que sentado aqui vendo um monte de vacas.

Eu tentava incessantemente tirar as folhas da árvore que caiam em meu cabelo castanho, enquanto meus olhos verdes ardiam por causa da poeira que o gado levantava enquanto andava. Eu ainda não estava acostumado com essa ruralidade toda, e não esperava me acostumar.

Sim, eu havia acabado de chegar aqui. Anteontem para ser mais preciso. E eu já estava morrendo de tédio.

Minha mãe havia me mandado para cá porque meu pai e ela queriam viajar (apesar de não terem falado que esse era o motivo e ficarem tentando inventar uma desculpa por horas), e também que meu avô não conseguia mais cuidar da fazenda dele sozinho, e que lá na cidade eu não fazia nada de útil. Sim, ela falou que seu próprio filho era um inútil na maior cara dura, mas eu não ligo, minha mãe é assim mesmo. Pelo menos aqui na região tem umas lendas nas quais eu me divirto bastante lendo. Como as pessoas daqui podem acreditar em algo tão fantasioso como Demônios-Raposa? E principalmente, porque Demônios-Raposa iriam atacar nosso gado, quando poderiam simplesmente nos devorar? Alguns até já falaram que tiveram seu gado atacado por um, mas poderia ser simplesmente um outro animal que veio até aqui a procura de comida. E o mais engraçado, é que quando eu fui pesquisar por aqui, disseram que os demônios haviam sido exterminados por uma vila antiga, então se eles já estão mortos, como raios iriam atacar?

Me perco em pensamentos quando de repente vejo o gado começar a correr aos montes para o outro lado. Levanto num pulo, o que estaria causando aquela algazarra toda?

Foi então que eu a vi.

Ela estava com uma roupa certamente antiga, manchada com o sangue de um dos bois que tinha acabado de matar. Tinha cauda e orelhas de raposa, era certamente muito bonita se não fosse pelo pequeno fato....que ela estava literalmente, comendo um boi e encharcada de sangue. A única coisa que eu pensei no momento foi: ‘’Corre.’’

Mas eu não conseguia me mover. Estava paralisado naquele lugar. Não demorou muito pra ela terminar de comer o animal e se levantar, fazendo meu estômago quase revirar de tanto medo. Mas ao contrário do que eu esperava ela não me atacou, simplesmente me olhou por um tempo, até se virar de costas e recomeçar a andar, como se nada houvesse acontecido.

– Ei, espera! – Eu disse sem pensar antes, ficando calado logo em seguida.

O que eu fiz?

A garota olhou para mim de novo, sem sair do lugar em que estava.

– O que? – Ela perguntou, me olhando de uma maneira que conseguiu me deixar ainda mais assustado que antes.

Eu não sabia o que viria a seguir.

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